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VERSÃO-TEXTO
Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH): da definição ao tratamento.
O que é?
O TDAH é um transtorno
mental como qualquer outro, com causa predominantemente genética, apesar de
alguns fatores ambientais como "a mãe ter fumado durante a gestação" aumentam
as chances de o transtorno se manifestar.
As três principais dimensões
do TDAH são: 1) hiperatividade, 2) impulsividade e 3) desatenção. Além disso,
investigações recentes estão demonstrando que estes pacientes também apresentam
dificuldades na identificação das expressões faciais emocionais.
Há também uma diferença
de gênero. Ou seja, homens tendem a manifestar mais o tipo predominantemente
hiperativo, enquanto que mulheres tendem a apresentar mais o tipo
predominantemente desatento.
Isso tem uma implicação
importante para o contexto escolar, que é onde - quase sempre - se notam as
diferenças entre as crianças. Numa sala de 30 alunos, por exemplo, aqueles que
são predominantemente hiperativos (quase sempre meninos) vão incomodar mais os
colegas e a professora, logo, serão mais rapidamente identificados,
encaminhados para uma avaliação adequada e, se confirmado o transtorno, tratados.
Já o predominantemente desatento (quase sempre meninas) é o aluno que não
incomoda na sala, e pode demorar para ser identificado e tratado.
Por isso, se você
começar a suspeitar que seu aluno, seu filho ou alguém próximo, a partir dos 7
anos, está apresentando comportamentos que possam indicar o TDAH, busque a
ajuda de algum profissional da saúde.
Lembrando que, diferentemente
do que se pensava antes, o TDAH não é uma doença exclusiva de crianças. Em
aproximadamente 70% dos casos não tratados, o transtorno se arrasta para a
idade adulta. Ou seja, o TDAH em adultos é mais comum do que se pensava anos
atrás.
O que o TDAH não é?
Não é “um jeito de
ser", não é “um traço de personalidade", não é "uma expressão
natural da espontaneidade infantil", nem "falta de limite", muito
menos “uma coisa boa".
A culpa não é da falta
de educação dada pelos pais em casa, nem do sistema escolar, nem do mundo
globalizado que exige que nós sejamos cada vez mais multifuncionais, muito
menos do próprio paciente.
É necessário diminuir
essa visão moralista com que ainda tratamos os transtornos mentais, no sentido
de buscar algo ou alguém para culpar pela manifestação daquele problema. Esse
tipo de visão, além de não ajudar, atrapalha. Porque enquanto você fica
tentando buscar um culpado para o TDAH, está negando ao indivíduo a
possibilidade de tratar.
Como é feito o
diagnóstico?
O diagnóstico é
eminentemente clínico. Ou seja, existem instrumentos/questionários já validados
por estudos científicos, que geram resultados capazes de informar ao
profissional se aquele indivíduo tem ou não o TDAH, sem a necessidade de exames
complementares (e caros).
Além disso, é
importante deixar claro que o diagnóstico é sempre dimensional!
Preste bastante atenção
nesse aspecto, porque muitos dos críticos parecem desconhecer como o próprio
diagnóstico é feito.
Todos nós podemos ser
um pouco desatentos, hiperativos ou impulsivos em determinados contextos,
porém, conseguimos com facilidade controlar isso com o objetivo de nos
adaptarmos à situação, e funcionarmos adequadamente.
Os pacientes com TDAH
não conseguem, e sofrem em decorrência disso. Esta é a questão! A dimensão dos
sintomas deles é muito maior que a dos que se manifestos na população saudável,
e por isso precisam ser diagnosticados corretamente para poder receber o
tratamento adequado.
Afinal, esses
indivíduos têm muitos problemas em seu cotidiano. Desde a dificuldade para
aprender (uma vez que não conseguem prestar atenção), até o maior envolvimento
em situações de alto risco.
Alguns pais duvidam do
diagnóstico do filho porque "quando ele está no videogame, passa horas
jogando". Mas, vamos entender esta questão um pouco melhor. O videogame foi
concebido para ser uma atividade extremamente prazerosa, e isso é claro que
facilita o controle da atenção e hiperatividade. Porém, não podemos tomar isso
como parâmetro de comparação, afinal, nossa vida não é feita apenas de momentos
extraordinariamente prazerosos. Há coisas que não necessariamente são super
estimulantes, e que precisam ser feitas. Indivíduos normais conseguem fazer,
pacientes com TDAH não.
Outro ponto que vale
destaque é: “diagnóstico” não é "rótulo". Diagnóstico é o alicerce
para o tratamento. Você diagnostica alguém com qualquer doença, com o objetivo de
oferecer um tratamento adequado, e comprovadamente eficaz para amenizar aquele
problema específico. Sem um diagnóstico preciso, o tratamento também não é
preciso.
Sobre o tratamento
O tratamento do TDAH,
apesar de fundamental, vem sendo alvo de muitas teorias conspiratórias e
declarações equivocadas, principalmente no que diz respeito ao uso do
metilfenidato, que é comercializado – principalmente – com o nome de Ritalina.
Lembra que comentei
sobre como é ruim ver os transtornos mentais numa ótica moralista? Pois então,
essa ideia de que o metilfenidato seja ruim deriva da visão de um grupo
ideologicamente organizado para pensar dessa forma e que, não satisfeitos
apenas em pensar assim, insistem em divulgar essa visão torpe para a população.
Porém, contra fatos não
há argumentos! A literatura científica está repleta de evidências sérias
demonstrando o efeito positivo da Ritalina para a melhora clínica dos pacientes
com TDAH, em todos os seus aspectos.
O metilfenidato é um
estimulante, mas muito específico, que serve para estimular justamente uma
região do cérebro desses pacientes que não está funcionando direito. Só!
E, ao contrário, há um
sólido corpo de evidências demonstrando que quando os pacientes não recebem o
tratamento adequado (que envolve o metilfenidato), acabam manifestando sérios
problemas de comportamento, principalmente na adolescência e idade adulta, consequentes
do TDAH.
Entre eles podemos
citar: 1) maior índice de gravidez indesejada e doenças sexualmente
transmissíveis; 2) maior índice de acidentes de carro; 3) risco duas vezes
maior de desenvolver dependência química; 4) problemas com a lei; 5) abandono
de emprego e dos estudos; 6) maior índice de divórcios; e por ai vai.
Porém, a monoterapia
nunca é tão eficaz quanto a terapia combinada.
Existem muitas
investigações comprovando o efeito extremamente positivo da psicoterapia
cognitivo-comportamental e do treinamento de memória de trabalho, em associação
com o metilfenidato, para a melhora clínica do paciente com TDAH.
Isso significa que
buscar pelo tratamento multiprofissional, envolvendo médicos psiquiatras,
psicólogos, e até outros profissionais da saúde, é a melhor estratégia.
Para finalizar,
gostaria de propor a seguinte reflexão:
Triste é a sina daquele
que tem alguma doença que não pode tratar, pois não há tratamento disponível.
Esta pessoa está,
infelizmente, condenada sofrer todas as dificuldades associadas àquele
transtorno.
Com o TDAH, ainda bem,
isso não acontece.
Afinal, hoje em dia, já
existem formas seguras de garantir ao paciente uma melhor qualidade de vida.
Então, valorize as
pistas do TDAH e, caso as identifique, procure algum profissional da saúde para
investigar melhor a suspeita e, se necessário, conduzir o tratamento que você
merece para ter uma vida plena.====================
Tenha um dia PLENO!