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Muito obrigado!
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Tenha um dia PLENO!
Em
Resposta ao “Hangout da Sociedade Racionalista e Universo Racionalista:
Cientificismo, Filosofia e Pluralismo”
Acabo de assistir ao
hangout organizado pela Sociedade Racionalista e pelo Universo Racionalista,
que aconteceu há poucas horas atrás e usou meu vídeo para ilustrar uma crítica
ao cientificismo.
Quero deixar bem claro
que avaliei positivamente, e me inscrevi no canal deles. Inclusive, recomendo
que você faça o mesmo.
Entretanto, abaixo
listo vários pontos de discordância sobre o que foi falado, porém é importante
salientar que o hangout foi bem organizado, coerente e educado. Por isso,
minhas críticas são aos argumentos utilizados, pois não há qualquer necessidade
de atacar qualquer um dos envolvidos.
Após esta parte
inicial, discorro sobre minha própria percepção atualizada sobre meu vídeo.
Peço que leia até o
final, antes de emitir alguma opinião.
Obrigado.
Seguem os pontos de
discordância:
1.
Logo no início, fui apresentado como um “psicólogo que trabalha num instituto de parapsicologia”, num tom um tanto jocoso, sem sem conhecer
como meu trabalho é feito. Digo isso porque já abordei essa questão num de meus
vídeos. Então, peço que você assista (clicando AQUI) e confira.
2.
A questão do pluralismo teórico nas
ciências sociais e da saúde, eu preciso discordar fortemente de que seja uma
coisa boa, mas isso é uma discussão para outro momento, que aqui não
necessariamente pretendo defender, mas em breve farei;
3.
Também preciso discordar quando foi dito
que a antropologia é cheia de filosofia, afinal, pela própria sequência do meu
raciocínio, é claro que não estou me referindo ao legado de Margaret Mead, mas da antropologia
biológica, que entende a cultura (e suas manifestações) como reflexo da
natureza humana;
4.
A parte do “reducionismo da moral” (como
se cientistas cognitivos não conseguissem explicar esse mecanismo) eu também preciso discordar, pois denota desconhecimento dos trabalhos de autores como –
principalmente – Joshua Greene, Jonathan Haidt, Paul Rozin, Molly Crockett e
Marc Hauser. No “Google Acadêmico” você acha os trabalhos deles.
5.
Sobre o mal uso da ciência, o que tenho
a dizer é que você não precisa ser um filósofo para saber se é errado explodir
milhares de pessoas com uma bomba atômica. De igual sorte, há filósofos que
compactuam com ideologias torpes, como Heidegger que continuou nazista até a
hora de sua morte. Essa diferenciação entre certo e errado faz parte da nossa
própria natureza, independente do fato de sermos ou não filósofos. Ou seja, os
próprios cientistas podem chegar a conclusões nesse sentido. Ainda bem! Senão,
imagina o caos que seria, se só filósofos conseguissem refletir se algo é certo
ou errado. Logo, novamente, não é necessário consultar um filósofo antes de
decidir bombardear alguém ou alguma coisa.
6.
Sobre como a ciência – com todos os seus
dados – pode ser usada para dizer o que é certo e errado, tem a conferência do Sam Harris sobre isso. Não quer dizer que ele esteja 100% correto, mas é
importante que as pessoas analisem os argumentos apresentados antes de formar
uma opinião estereotipada sobre a coisa. A questão é, porque David Hume estaria mais correto que Sam Harris quando às implicações da ciência para a sociedade?
7.
Sobre o exemplo do “Sartre e da decisão
do rapaz em ir ou não para a guerra não poder ser explicada pela ciência”, eu
também tenho uma réplica. É claro que a ciência explica a “tomada de decisão”,
o que a influencia, etc. Contudo, por uma questão até econômica, quase sempre
chega a essas conclusões utilizando dados de uma amostra, e os resultados
representam quase sempre a média da população. No entanto, é possível também
fazer um “estudo de caso” específico, respeitando o método científico
(controlando variáveis e gerando resultados). A literatura científica de ponta
está repleta de “casos clínicos” relevantes. Então, a singularidade não é
nenhuma “área diferente pra ciência”, muito menos inacessível. Ou seja, o método científico não só serve,
como já foi várias vezes aplicado para estudar a história de vida de um
indivíduo. Mas, claro, é preciso ter uma boa justificativa para isso;
8.
Quanto aos critérios das teorias
filosóficas antigas: Quais eram? Eles entrevistavam uma população bem definida e significativa
para concluir o que concluíam? Enfim, como eles controlavam todas as variáveis?
É nesse sentido que estou criticando. Afinal, hoje a ciência consegue fazer
isso. Friso que esses não são critérios que “eu quero”, são os critérios adotados
pela ciência de hoje, que consegue estudar as mesmas coisas, e explicá-las de
forma muito mais consistente, justamente por isso. Agora, volto à pergunta: porque os
critérios adotados pelos filósofos da antiguidade estavam certos? E, se não
estavam, porque dar valor (além do histórico) às “conclusões” apresentadas?
9.
Sobre a filosofia não invadir a ciência,
se isso não acontecesse, eu não teria porque fazer o vídeo. É claro que essa
invasão acontece. E é evidente que essa invasão atrasa. Basta ler “Tábula Rasa: A
Negação Contemporânea da Natureza Humana” do Steven Pinker para conhecer bem
esse histórico tanto antigo, quanto moderno, da filosofia tentando se meter na
ciência (principalmente na psicologia) com seus supostos saberes, e emperrando
o desenvolvimento. E aqui não estou falando em uma filosofia do tipo “analisar
a prática” ou “verificar as condições éticas do método”. Estou falando de uma
filosofia do tipo: “Fulano disse isso, então é isso, e essa outra coisa que
você vai fazer não deve ser feita!”. E isso também é “filosofia”. Eu posso ter
me equivocado na hora de generalizar a crítica, mas quem conhece meu canal sabe
que são essas coisas que ataco (no entanto, eu não poderia exigir que a pessoa
conhecesse meu canal, por isso, reconheço que pequei por não ter esclarecido
melhor este aspecto). Então, essa “não intervenção” pode até ser bonita em
teoria, mas na prática ela acontece muito. É só ver os cursos de psicologia
aqui no Brasil... a maioria deles, devido a uma orientação filosófica, não
apenas desincentiva, como impede o desenvolvimento da psicologia enquanto ciência. Divulgá-la é – inclusive
– a principal razão do TVCChannelNews existir. Então, se você não vê, no
cotidiano de sua universidade, esta influência coerciva de determinadas visões
filosóficas sobre o homem, o mundo e a sociedade: ou é uma pessoa de sorte; ou
está compactuando com essa doutrina.
10.
Sobre a união dos métodos da ciência
social com a biológica, não apenas é possível, como já vem sendo feito há um
bom tempo, e com muito sucesso, desde 1975, quando se oficializou o termo
Sociobiologia, por E.O.Wilson. Depois veio a Psicologia Evolucionista,
oficializada em 1992 com a publicação do “The Adapted Mind” de Leda Cosmides, John
Tooby e Jerome Barkow. Agora temos também a Neurociência Social originada no
início dos anos 2000, principalmente pelos trabalhos de John Cacioppo e Ralph
Adolphs. E, mais recentemente, temos ainda a Neuroeconomia, derivada dos
estudos de Paul Zak sobre o papel da oxitocina no comportamento econômico, em
2005. Então, essa já é uma ideia relativamente antiga, e que tem rendido ótimos
frutos. Não deveria mas causar espanto. Aliás, esclarecer esta
questão às pessoas que não têm obrigação de conhecer sobre psicologia é
justamente o objetivo principal do meu canal no YouTube.
11.
O argumento de que “o método científico
poder ajudar a explicar o funcionamento de uma célula, mas não da reflexão”, traz
– pelo menos, implicitamente – a noção obsoleta de separação entre mente e
cérebro, como se a mente não fosse resultado da ação de células (neurônios), e
por isso não pudesse ser estudada em laboratório. Nada mais longe do que
sabemos hoje.
12.
Sobre a psicologia se desenvolver por
vias filosóficas, devo dizer que isso não é verdade. A evolução do conhecimento
em psicologia se dá através do método científico, como qualquer outra ciência. Novamente, se você entende por filosofia o fato de construir uma hipótese sobre determinado fenômeno e colocar isso num papel (projeto), então sim (inclusive, essa foi uma ponderação que fiz no meu vídeo, e que foi deixada de lado no hangout), mas o resultado desse experimento, que você utilizará para explicar o fenômeno observado não será filosófico, mas científico. Assista a um dos vídeos de meu canal (clique AQUI) em que disseco um artigo muito relevante
sobre essa questão.
13.
Sobre a visão de que os métodos
científicos servem para as ciências naturais e não para as sociais, também não
está de acordo com a realidade. Basta pesquisar por alguns minutos sobre os
estudos da psicologia evolucionista e da neurociência social (já citadas antes,
e - inclusive - no próprio vídeo),
Sobre
meu vídeo: autocrítica atualizada
Quando eu comecei a
fazer vídeos para o YouTube divulgando as evidências da psicologia, abri mão do
meu direito de “opinar” sobre as coisas, pelo menos no canal. Entretanto, em
determinados momentos, rompi essa regra pessoal e me lancei a falar sobre coisas
que não necessariamente tinham uma relação direta com a psicologia.
Um dos vídeos nesse
sentido, por exemplo, é aquele em que eu falo sobre a "militância ateísta", bem lá no início do canal. Outro exemplo
foi mais recente, quando falei sobre a relevância da filosofia para explicar os
fenômenos, no século XXI. Este último, entretanto, não era para ser um
problema, se eu tivesse conseguido expor adequadamente meu ponto de vista.
Algumas pessoas entenderam o que eu quis dizer, outras não entenderam e,
assistindo-o hoje (meses depois) percebo que preciso dar razão àqueles que não
entenderam: o vídeo realmente ficou ruim, e como um divulgador da ciência
(nesse caso específico, de uma discussão que permeia a academia) eu não poderia
ter cometido alguns dos erros que cometi na execução dele.
Minha crítica não era
para ter sido diferente daquela que vem sendo feita em grandes universidades
nos últimos anos.
O físico Stephen
Hawking, por exemplo, abre um de seus livros mais recentes com a afirmação de
que “a filosofia está morta”, porque a ciência é capaz de compreender muito
melhor os fenômenos. Então, esta “filosofia” a que ele se refere diz respeito à
forma de explicar o mundo, que já não se sustenta diante do avanço da ciência e
tecnologia.
Curiosamente, o filósofo
Sam Harris também está na linha de frente do cientificismo moderno,
principalmente através da publicação de seu livro “The Moral Landscape” e de
uma polêmica conferência no TEDxTalks em que ele defende que a ciência é o
melhor método para se explicar o que é certo ou errado (algo que sempre foi da
competência da filosofia).
O biólogo Richard
Dawkins e o astrofísico Neil DeGrasse Tyson também respondem a essa dúvida
levantada provavelmente por um professor de filosofia durante um debate,
reconhecendo que durante muito tempo “filosofar” era a melhor forma de analisar
o mundo, mas diante do que já sabemos hoje, “fazer ciência” é bem melhor.
O psicólogo Steven
Pinker também se lançou em defesa do cientificismo, meses atrás, através de uma
polêmica publicação na New Republic, onde - inclusive - ele desmistifica a visão pejorativa com que este termo é utilizado.
Mas estes são apenas
exemplos conhecidos de indivíduos conhecidos que se manifestaram publicamente
sobre o tema, quase sempre em contextos acadêmicos. Como toda discussão
universitária, há também aqueles que se opõem ao cientificismo, e assim se fomenta todo um debate importante.
No entanto, eu entendo
que essa discussão não seja no sentido de defender a inutilidade da
filosofia como um todo, mas ao apego às declarações de filósofos famosos que
erraram feio e provocaram o atraso em várias áreas (principalmente na
educação).
Trata-se mais de uma
crítica ao fato de que, geralmente, quando se aborda a filosofia apela-se à
autoridade do filósofo. Por exemplo: “Nietzsche disse que...” ou “Spinoza considerava que...”. Muitos desses insights não estavam embasados em nenhuma
evidência sequer e, no entanto, as pessoas acabavam se convencendo daquilo e
disseminando para todos os demais, inclusive dentro das universidades. Por
exemplo, José Ortega y Gasset (famoso filósofo espanhol do século passado) disse que
“O homem não tem natureza, ele tem história”. Mas, quem disse que isso está
correto? E, se não está (sendo, portanto, uma mera ideia sobre o mundo como
qualquer um de nós pode ter antes de dormir) porque construir teses de
doutorado em cima disso, e influenciar todo o sistema educacional de um país? É
aqui que reside o problema!
A filosofia, em muitos
casos (não em todos), acaba se apegando ao que determinado filósofo disse, para
explicar determinado fenômeno. Ou seja, é um clássico apelo à autoridade.
Quando os cientistas que citei acima defendem que a resposta aos dilemas
humanos só poderá vir da ciência, eles não estão dizendo que possuem as
respostas, mas reconhecendo – inclusive – que muitas das respostas virão de áreas
que eles jamais estudarão. Stephen Hawking, Richard Dawkins, e Neil Tyson, por
exemplo, dificilmente farão alguma pesquisa sobre comportamento humano. No
entanto, ainda assim, estão defendendo a supremacia da ciência na hora de
explicar os fenômenos. Por isso, não é “o que Hawking disse”, mas o que a
ciência como um todo demonstra através de suas evidências e replicações é que
deverá ser utilizado para explicar como e porque as coisas são como são.
Então, insisto, se você
quer saber sobre como e porque amamos da forma como amamos, não recorra ao que
Platão, Aristóteles ou Jesus Cristo falaram (como alguns defendem por ai), mas
a Helen Fisher, David Buss, Andreas Bartels, Elaine Hatfield, Robert Steinberg...
De igual maneira, para saber como a moral funciona, ler Kant não necessariamente será a melhor escolhe, por isso é mais interessante a leitura de Joshua
Greene, Jonathan Haidt, Marc Hauser, Molly Crockett...
Quero deixar bem claro,
inclusive, que alguns filósofos realmente acertaram na mosca. Ou seja, mesmo
com recursos pífios e tecnologia risível, conseguiram ser muito assertivos na
hora de analisar algum fenômeno. O próprio Kant, diga-se de passagem, foi um
deles. No entanto, boa parte se equivocou feio e – ainda – mesmo os
acertos não são completos.
Hoje em dia, a ciência
dá conta de estudar todas essas ditas “grandes questões da humanidade”, com
muito mais objetividade, rigor e significância. Por isso, meu conselho no vídeo
foi que você investisse seus recursos (de tempo, e financeiro) se atualizando à
luz das evidências científicas. Mas, claro, cada um faz o que bem entende.
Esse, inclusive, talvez tenha sido meu maior erro no vídeo: encerrar com um
conselho.
Concluindo, hoje
percebo que consegui ser claro para uma boa parte das pessoas. Entretanto, não
fui muito claro para outra boa parte. Por isso, preciso ter hombridade para
reconhecer que minha mensagem foi dúbia, e isso não poderia ter acontecido.
Não sei ainda que fim
terá este vídeo, se mantenho no ar ou se retiro. Decidirei isso no futuro.
Hoje, opto por mantê-lo, até como exemplo pra mim mesmo de um trabalho que eu
poderia ter feito bem melhor.
Grato pela sua atenção,
e compreensão,
Thales Vianna Coutinho====================
Tenha um dia PLENO!
Valeu Thales. Bem justificados os pontos e a autocrítica. De fato no seu vídeo ficou bem clara a defesa das suas ideias para quem já o acompanha há algum tempo, como eu. Diria um tanto provocativo para quem se opõe às suas ideias, mas é assim que se constrói o conhecimento, quando se tem interesse é claro. Grande abraço!
ResponderExcluiracompanho seu canal a bastante tempo e também os hangouts da sociedade racionalista, e sinceramente falando discordo muito deles pelo posicionamento politico radical que vem sendo tomado nos últimos tempos por eles, mas isso nem vem muito ao caso... o fato que é seus videos me inspiram como estudante de neurologia, e quando falaram de você e seu trabalho fiquei um tanto desgastado pelo deboche e sarcasmo que utilizaram.
ResponderExcluirThales, sou estudante de Psicologia, como você, muitas vezes fico frustrado com o excesso de literatura sem objetividade, apelos à autoridade, falta de uma boa navalha de occam nas teorias, falta de ceticismo, etc.
ResponderExcluirConcordo com boa parte da sua critica. Mas, também concordo com as criticas que sofreu no hangout. Creio que você deveria delimitar mais suas ideias, para evitar interpretações, afinal, muitas pessoas podem estar assistindo seu vídeo pela primeira vez. Agora, lendo seu texto, compreendo melhor o que você quis dizer.
Mas, ainda assim noto no seu texto o cientificismo ingenuo. Ora, também acho que a ciência é o melhor método e mais seguro para se analisar um evento quando possível. Mas, o que é ciência, o que não é ciência, como definimos um objeto, como delimitamos um problema, isso é filosofia. Em Psicologia eu sou muito apegado as linhas comportamentais e cognitivas, bem, o Behaviorismo é uma filosofia que trata das interpretações dos dados obtidos pela análise do comportamento. Hoje as psicologias cognitivo comportamentais também tem suas bases filosóficas, em alguns pontos até se assemelham em conceitos comportamentalistas, não há ciência sem uma base filosófica que sustente suas interpretações.
" mas o resultado desse experimento, que você utilizará para explicar o fenômeno observado não será filosófico, mas científico"
Se fosse assim, não teríamos interpretações para esse resultado da Gestalt, AC, Cognitivista, Psicanalise, Existencial, Humanista, ect...
Falando em revolução cognitiva:
ResponderExcluir"Todavia, nenhuma revolução, mesmo bem-sucedida, não escapa das criticas. (...) Observado que existem poucos conceitos com os quais a maioria dos psicólogos cognitivos concordam, ou que consideram importantes, e ainda há muita confusão em torno da terminologia e das definições." (Schultz e Schultz, 2009, p. 446.)
Que problemas são esses se não filosóficos?
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