quarta-feira, 17 de abril de 2013

TEXTO: Professor permite a "cola". Por quê?


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PROFESSOR PERMITE A "COLA". POR QUÊ?

Thales Vianna Coutinho
Psicólogo (CRP12/10175)
Personal & Professional Coach



Peter Nonacs
     Peter Nonacs leciona a disciplina de "Ecology and Evolutionary Biology" na Universidade da Califórnia - Los Angeles(UCLA). Na última segunda feira (15/04), ele publicou um texto na Zócalo Public Square, explicando porque permite que seus alunos discutam livremente entre eles, e consultem o material didático, em busca das respostas às perguntas da prova.
     Ele diz que muitas regras da natureza podem ser resumidas a uma frase: "A vida é um Jogo" e que o objetivo do jogador é ganhar. A "Teoria dos Jogos", que explica matematicamente a lógica desses jogos sociais, segundo Nonacs, é uma excelente ferramenta a ser aplicada na Educação. E ele testou essa hipótese em uma de suas turmas.
     Uma semana antes da prova, informou aos seus alunos que a avaliação (sobre “Behavioral Ecology”) seria dificílima, mas que apenas naquela ocasião eles poderiam colar! Poderiam trocar ideias livremente entre si antes de cada resposta, bem como consultar os livros, a internet e até mesmo especialistas na área. Até brincou dizendo que apenas violações a leis federais e estaduais seriam proibidas naquele teste.
     Os alunos inicialmente não acreditaram, e até debocharam da proposta. Mas então ele colocou: “You are UCLA students. The brightest of the bright. Let’s see what you can accomplish when you have no restrictions and the only thing that matters is getting the best answer possible.” (tradução: Vocês são estudantes da UCLA. Os mais brilhantes dentre os brilhantes. Deixe-me ver o que vocês podem produzir quando não tem restrições e a única coisa que importa é escrever a melhor resposta possível).
     Durante toda aquela semana, os alunos continuaram refletindo sobre aquilo, suspeitando de que a prova seria apenas uma fachada para analisar outra coisa. Cogitaram se a cooperação seria premiada ou punida; se a reciprocidade de informações seria avaliada pelo professor; etc. Enfim, o Nonacs conseguiu que seus alunos pensassem constantemente durante aquela semana, em todas as coisas que envolvem a "Teoria dos Jogos", e transformou uma classe de pessoas que pouco conversavam entre si, num grupo de indivíduos unidos com o objetivo de descobrir as intenções daquela mudança de regras do jogo.
     Eis que no “dia D", os alunos se depararam com uma avaliação cuja única questão era: "If evolution through natural selection is a game, what are the players, teams, rules, objectives, and outcomes?” (Tradução: Se a evolução através da seleção natural é um jogo, o que são os jogadores, os times, as regras, os objetivos e as respostas?).
     Imediatamente, toda a classe começou a dividir as atividades e a debater entre eles. Propuseram hipóteses, que eram discutidas à luz de evidências que cada um havia pesquisado. Decidiram, por eles próprios, que escreveriam a resposta que fosse um consenso da maioria. Dentre os 27 alunos, apenas 3 preferiram fazer individualmente.
     Ao final, os estudantes puderam perceber aquilo que alguns insetos sociais (formiga) já sabem por instinto. Ou seja, para ganhar um jogo, a cooperação é melhor que a competição. No caso da prova em si: as pessoas que compartilham e discutem suas ideias com outras se saem melhor que aquelas cujas ideias não passam pelo crivo dos pares. Eles estavam deixando de pensar em "Tirar melhor nota que os outros" (que implica, automaticamente, em um tirar a pior) para "Tirar a melhor nota que conseguir" (onde outros podem tirar uma nota igualmente boa).
     Nas palavras de Peter Nonacs:
I’m a realist. Almost none of my students will go on to be “me”—a university professor who makes a living observing animals. The vast majority take my classes as a prelude to medical, dental, pharmacy, or veterinary school. Still, I want my students to walk away with something more than, “Animals are cool.” I want them to leave my class thinking like behavioral ecologists.” (Tradução: Sou realista. Quase nenhum dos meus alunos serão como eu – um professor universitário que vive observando animais. A vasta maioria cursa essa disciplina como uma introdução à medicina, à odontologia, à farmácia, ou à veterinária. Ainda assim, quero que meus estudantes saiam com algo mais do que a percepção de que “animais são legais”. Quero que eles terminem minha disciplina pensando como ecologistas do comportamento).
     Dois dias depois, o professor retornou à turma com duas propostas:
     Proposta A) Eles poderiam receber o teste de volta, corrigido, e essa nota serviria para compor a média final
     Proposta B) O professor rasgaria todos os testes e os jogaria no lixo, antes mesmo que cada um pudesse ver a própria nota.
     Depois de protelar e argumentar um pouco, os estudantes escolheram por unanimidade receber o teste de volta. Perceberam, então, que entre aqueles que mais compartilharam informações durante a prova, a nota foi maior. Entre os 3 que decidiram realizá-la de forma mais individualista, um deles ficou com a nota acima da média, outro ficou com nota na média e o terceiro com nota abaixo da média.
     Isso convenceu Nonacs de que numa avaliação convencional, os estudantes são jogadores que estão competindo individualmente contra os demais, e o professor serve como um fiscalizador. Nesta forma de avaliação alternativa, os estudantes exercitam algumas das características mais fundamentais do ser humano, que são: o altruísmo e a reciprocidade (neste caso, de ideias), passando a cooperar ao invés de competir, e seu resultado final é - em média - muito melhor.
     Além disso, eles já vivenciam na prática os conceitos fundamentais da "Teoria dos Jogos", que são fundamentais para a disciplina que ele estava lecionando. Nas palavras do próprio professor: "As a group they learned Game Theory better than any of my previous classes" (Tradução: Como grupo, eles aprenderam sobre “Teoria dos Jogos” melhor que qualquer de minhas turmas anteriores).
     Diante disso tudo, faço das palavras de encerramento do professor Peter Nonacs, as minhas:
     "The best tests will not only find out what students know but also stimulate thinking in novel ways. This is much more than regurgitating memorized facts. The test itself becomes a learning experience—where the very act of taking it leads to a deeper understanding of the subject" (Tradução: O melhor teste não apenas identifica o que os estudantes sabem, mas também os estimula de novas maneiras. Isto é muito mais do que acessar fatos memorizados. A prova se torna um aprendizado por experiência, que o leva a uma compreensão mais profunda do sujeito).


Referência:


Fonte das imagens:
Nonacs = http://www.evmed.ucla.edu/images/nonacs.jpg
Game Theory = http://25.media.tumblr.com/tumblr_lrp6a2Atud1qmxjbzo1_400.jpg
Escolha = https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjrP9zReWYw1AiHvXtS1JvJgZUba2gCQ-3zaDJIpwe1w1pCeMBWThwLFdbGPlTszEZD3bdmAatZX_TX3FZ2FeNYbAUu5lRT0wxjqmU_RH1-d1blUK8d6csjZ-Htt_9BCE_qE-oChyphenhyphen2q1Hc/s1600/VOC%25C3%258A+TEM+ESCOLHA.jpg
Formiga = https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjsckkpW0hYliutyVouiU8mRRkBv4A-4ZL90IBjcmxvxo5Av1-7ibTXoHnl07eRWy8BgbzJaeQDx_F4g1Gy_avjFhrmMV053HnI1mWyTjwNr0ZTR5k1U4GzYQUNE8BJgdU8wBGSYMymTMBm/s1600/FORMIGAS2.jpg


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Tenha um dia PLENO!

Um comentário:

  1. Ótima a visão desse professor Nonacs, cara. Acho que os professores brasileiros precisam evoluir muito nesse sentido. Eu não havia passado aqui ainda, Thales, tô gostando bastante desses textos.

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